O Casarão da Rua das Flores, em Vila Serena, sempre foi um lugar de mistério. Durante décadas, moradores contaram histórias sobre o desaparecimento de Cecília Alencar, uma jovem pianista talentosa cujo destino nunca fora esclarecido.
Na Parte 1, Isabela descobriu os restos mortais de Cecília no porão, encerrando parte da dúvida, mas levantando novas perguntas. Na Parte 2, a jovem historiadora encontrou um mapa antigo, cartas nunca enviadas e referências a um misterioso “Elias”, além de sinais de fenômenos inexplicáveis.
Agora, em sua investigação final, Isabela está prestes a revelar a verdade sombria que une passado e presente, encerrando o enigma do casarão que por tantos anos intrigou Vila Serena.
Apesar de advertida pelos moradores de Vila Serena, Isabela voltou ao casarão. A cada visita, a atmosfera parecia mais pesada, como se a casa se tornasse consciente de sua curiosidade. O vento soprava pelas janelas quebradas, produzindo sons que lembravam lamentos.
No entanto, desta vez, ela não estava sozinha. O Sr. Augusto, o morador antigo que falara sobre o guardião, decidiu acompanhá-la. Ele acreditava que, ao enfrentar o casarão, seria possível dar um fim às lendas que assombravam a cidade.
“Não é apenas uma casa velha, minha filha”, disse Augusto em tom grave. “É um lugar que guarda dores e segredos. E segredos têm um preço.”
Seguindo as indicações do mapa encontrado por Isabela, os dois localizaram uma entrada escondida atrás do jardim abandonado. Coberta por raízes e pedras, a passagem levava a um túnel subterrâneo.
O ar era denso e úmido, carregado com o cheiro de terra e mofo. As paredes eram estreitas, e símbolos riscados nas pedras sugeriam que alguém havia usado aquele caminho em segredo. Pouco depois, eles encontraram um pequeno altar de pedra, coberto por velas antigas derretidas.
“Rituais”, murmurou Augusto. “Aqui, a família Alencar fazia encontros escondidos. Não apenas religiosos, mas algo… diferente.”
Isabela anotava tudo. Entretanto, percebeu que os símbolos se repetiam em algumas das cartas de Cecília. Isso significava que a pianista estava ciente desses rituais — e talvez, seu destino tivesse ligação direta com eles.
Enquanto exploravam a passagem, Isabela encontrou uma caixa de ferro enferrujada. Dentro, havia cartas dirigidas a Cecília, assinadas por Elias Alencar. A revelação a deixou em choque. Elias não era um desconhecido: ele fazia parte da própria família de Cecília.
As cartas revelavam que Elias era seu primo distante, mas também seu amante secreto. A família, rígida e tradicional, jamais aceitaria tal relacionamento. Por outro lado, Elias demonstrava um tom obsessivo, quase doentio. Em uma das cartas, ele escrevia:
“Se não for minha, não será de mais ninguém. O casarão guardará você para sempre, Cecília.”
Finalmente, o enigma começava a se esclarecer: Elias não apenas amava Cecília, mas também estava envolvido em seu desaparecimento.
Pouco depois, Augusto e Isabela ouviram passos no túnel. As luzes de suas lanternas tremiam, e uma sombra alta surgiu à distância. O homem que se aproximava parecia velho, mas forte, e seus olhos refletiam uma intensidade perturbadora.
“Vocês não deveriam estar aqui”, disse o estranho, com voz rouca. “O casarão escolhe quem pode conhecer seus segredos.”
Isabela percebeu que aquele homem só poderia ser o chamado Guardião do Casarão. Ele afirmava ser descendente de Elias e dizia ter a missão de manter as histórias ocultas.
“Minha família jurou que os segredos daqui jamais seriam revelados”, explicou ele. “Cada geração mantém o pacto. Vocês não entendem o que despertaram.”
O Guardião hesitou, mas, ao ouvir o nome de Cecília, sua expressão se transformou. Em um misto de raiva e dor, ele revelou que sabia onde estava o diário completo de Elias, escondido em uma caixa secreta no sótão.
Entretanto, advertiu que abri-lo significaria enfrentar as consequências. O casarão, segundo ele, não guardava apenas memórias, mas também energias que se alimentavam da dor e do silêncio.
“A casa respira a tragédia de Cecília. Se vocês revelarem tudo, a própria essência do casarão pode se voltar contra vocês.”
Mesmo com o aviso, Isabela insistiu. Subiram ao sótão, onde o guardião retirou um painel de madeira e revelou a caixa. Dentro, o diário de Elias detalhava cada passo de sua obsessão: os encontros secretos, os ciúmes, as ameaças veladas.
A última anotação descrevia a noite em que Cecília planejava fugir. Elias a seguiu até o porão e, em um acesso de fúria, a matou com as próprias mãos. Para encobrir o crime, enterrou o corpo ali mesmo, onde Isabela o encontrara décadas depois.
O diário encerrava com uma frase perturbadora:
Pouco depois de ler as últimas palavras, o casarão inteiro pareceu estremecer. Portas bateram sozinhas, janelas se abriram com violência, e um vento gelado percorreu cada cômodo.
Isabela sentiu uma presença ao seu lado: uma figura etérea, vestida de branco, com o rosto sereno. Era Cecília Alencar. Seus olhos refletiam gratidão e tristeza.
“Obrigada por revelar minha história”, murmurou a aparição, em voz quase inaudível. “Agora posso descansar.”
No entanto, ao lado dela, uma sombra escura surgiu, deformada e grotesca — a representação do espírito de Elias, condenado a vagar no casarão por sua obsessão e violência.
O embate entre as duas presenças fez a casa estremecer novamente. As paredes racharam, e parecia que o casarão inteiro iria ruir.
Isabela e Augusto conseguiram escapar pela porta lateral enquanto o casarão parecia desmoronar em ruídos ensurdecedores. Quando olharam para trás, no entanto, a estrutura permanecia intacta — mas envolta em um silêncio sepulcral.
“Ela está em paz agora”, disse Augusto, emocionado. “Mas a casa… a casa nunca esquecerá.”
Isabela compreendeu que, embora Cecília tivesse finalmente encontrado descanso, o casarão continuaria carregando a marca do crime e do amor proibido, tornando-se uma lenda eterna de Vila Serena.
Meses depois, Isabela publicou um artigo detalhando sua investigação. A cidade de Vila Serena nunca mais foi a mesma. O casarão tornou-se um ponto de visitação para curiosos, pesquisadores e até caçadores de fantasmas.
Ainda assim, muitos moradores evitavam passar pela Rua das Flores à noite. Alguns afirmavam ouvir acordes de piano ecoando do casarão vazio, outros relatavam ter visto uma mulher de branco caminhando pelas janelas empoeiradas.
A história de Cecília Alencar, Elias e o casarão não apenas foi revelada, mas também se transformou em uma lenda imortal, que misturava realidade e ficção, verdade e mito.
Finalmente, o enigma estava resolvido — mas o mistério, como toda boa lenda, nunca morreria completamente.
O Enigma do Casarão da Rua das Flores chega ao fim como uma história de amor proibido, tragédia e segredos familiares que atravessaram gerações. Isabela cumpriu sua missão: revelar a verdade, dar voz à memória de Cecília e libertar sua alma.
No entanto, a narrativa deixa claro que certos lugares guardam marcas eternas, e que a linha entre o real e o sobrenatural pode ser mais tênue do que imaginamos.
A lenda do casarão permanece viva em Vila Serena, lembrando a todos que, mesmo quando os mistérios são resolvidos, as sombras do passado nunca desaparecem por completo.