Atravessar a fenda foi como mergulhar em um rio de luz. O corpo parecia se dissolver e ser reconstruído várias vezes ao mesmo tempo. As vozes de 1992 ecoavam ao redor, misturadas com lembranças de 2025 e imagens que não pertenciam a nenhum tempo conhecido.
Quando finalmente caíram no chão, os cinco amigos estavam atordoados. O ar era mais denso, com um cheiro metálico forte. A paisagem diante deles era completamente diferente.
Torres de vidro e metal se erguiam até o céu, conectadas por passarelas suspensas. Estradas flutuavam, e veículos sem rodas deslizavam em silêncio. Telas enormes exibiam mensagens em línguas que eles não compreendiam completamente, mas que lembravam versões evoluídas do português.
Mateus foi o primeiro a reagir, olhando ao redor com fascínio e medo.
— Meu Deus… isso é 2088. Nós realmente viajamos no tempo.
Helena observava tudo com olhos marejados. Em sua mente, a imagem da pequena Serra do Luar, com suas casas simples e ruas tranquilas, contrastava brutalmente com aquele cenário futurista.
Lucas tentou disfarçar o nervosismo.
— Bom… pelo menos parece que aqui não tem mosquitos. Quem sabe não seja tão ruim?
Ninguém riu.
Gabriel, sempre observador, apontou para o horizonte.
— Reparem… não há crianças nas ruas. Só adultos, e todos parecem apressados, como se estivessem fugindo de algo.
De fato, as pessoas caminhavam rápido, com expressões tensas, e evitavam contato visual. Era como se a cidade estivesse viva, mas sem alegria.
Enquanto andavam pelas ruas, uma mulher de aparência séria os abordou. Seus cabelos eram prateados, embora seu rosto não mostrasse sinais de envelhecimento. Vestia roupas ajustadas de um material brilhante.
— Vocês não deviam estar aqui — disse ela em tom baixo, quase sussurrado. — Crianças não existem mais neste tempo.
A frase caiu como um choque. Helena, sem pensar, segurou o braço da mulher.
— Por favor, minha irmã… Clara… ela desapareceu em 2025. Eu sei que ela veio parar aqui.
Os olhos da mulher se arregalaram. Ela olhou ao redor, certificando-se de que ninguém estava observando, e disse:
— Sigam-me. Rápido.
A mulher os levou até um prédio abandonado, cuja entrada estava escondida atrás de estruturas metálicas. Lá dentro, um elevador os conduziu a vários andares abaixo da superfície.
O lugar parecia um refúgio secreto. Havia pessoas reunidas em grupos, algumas usando roupas comuns, outras com marcas no braço, como tatuagens brilhantes que pulsavam em azul.
— Meu nome é Elara — apresentou-se a mulher. — E se vocês realmente vieram de 2025… então o que temem é verdade. O portal da cabana não está morto.
Mateus arregalou os olhos.
— Você conhece a cabana?
— Todos que lutam contra o regime conhecem — respondeu Elara. — É um dos poucos pontos de ruptura temporal ainda ativos.
Helena não conseguiu mais conter as lágrimas.
— Minha irmã… uma menina de onze anos… vocês a viram?
Elara hesitou por alguns segundos, como se medisse o peso de suas palavras.
— Sim. Ela esteve aqui. Mas… não é simples.
Helena sentiu o coração acelerar.
— Onde ela está?
— Sob custódia. O governo a considera uma anomalia. Crianças não existem mais neste tempo porque foram… eliminadas. Clara é vista como um erro que precisa ser corrigido.
O grupo ficou em choque.
— Como assim eliminadas? — perguntou Gabriel, horrorizado.
— Em 2060, uma crise global levou os líderes a decidir que novas gerações não poderiam nascer até que o equilíbrio fosse restaurado. Crianças desapareceram. Escolas fecharam. E o governo impôs o controle absoluto sobre o tempo de vida da população.
Lucas, sempre tentando esconder o medo, murmurou:
— Então… nós viemos parar em um futuro sem infância?
Elara assentiu.
— E a presença de Clara ameaça expor o segredo do regime. Se não a encontrarmos antes deles, ela não sobreviverá.
O silêncio tomou conta do grupo. O futuro não era apenas diferente, era cruel. Clara estava em perigo real, e talvez eles fossem os únicos capazes de salvá-la.
Mateus fechou os olhos por um instante, tentando organizar a lógica.
— Isso significa que o portal da cabana é usado pelo governo?
— Não exatamente — explicou Elara. — Ele é instável, não controlado por eles. Mas cada vez que se abre, alguém presta atenção. E Clara chamou atenção demais.
Helena se levantou, decidida.
— Então precisamos encontrá-la agora. Onde ela está?
Elara hesitou novamente, mas por fim respondeu:
— Em uma instalação chamada Núcleo da Ordem, no centro da cidade. Se vocês querem realmente resgatá-la, terão que enfrentar perigos que nem imaginam.
Antes que pudessem perguntar mais, um alarme ecoou pelo refúgio. Telas se acenderam mostrando figuras metálicas se aproximando: drones de vigilância do governo.
Elara correu até um painel e gritou:
— Eles nos rastrearam! Vocês precisam sair!
Gabriel segurou o braço dela.
— Mas e você?
— Eu vou atrasá-los. Vocês sigam este túnel e encontrem a saída para o distrito leste. Lá terão mais chances de chegar ao Núcleo.
Helena não queria abandonar sua nova aliada, mas não havia tempo. O grupo entrou no túnel indicado, ouvindo atrás de si o som de explosões e gritos.
Enquanto corriam pela escuridão, uma certeza unia todos: a busca por Clara acabava de se transformar em uma luta contra o próprio futuro.
O túnel estreito parecia interminável. O som das explosões atrás deles ainda ecoava, como se o chão vibrasse sob seus pés. Helena, que corria à frente, sentia o coração bater tão forte que parecia engasgar sua respiração.
Depois de quase quinze minutos correndo sem parar, os amigos encontraram uma escada metálica que levava a uma grade no teto. Gabriel forçou a saída e, com esforço, conseguiu empurrá-la para cima. A luz artificial da cidade entrou em feixes azulados.
Quando subiram, ficaram em choque.
Estavam em uma rua deserta, iluminada por postes flutuantes que projetavam hologramas de propagandas. A voz de uma mulher, suave mas imponente, repetia nas telas:
"A Ordem garante sua segurança. A Ordem protege seu futuro. Confie na Ordem."
Helena apertou os punhos.
— Se essa “Ordem” protege o futuro… por que tiraram as crianças dele?
Mateus, sempre racional, respondeu em voz baixa:
— Porque para eles, crianças são instabilidade. São imprevisíveis. E o futuro, do jeito que vemos aqui, precisa ser… controlado.
Enquanto caminhavam em silêncio, perceberam o quanto a ausência de crianças mudava o ambiente. Não havia risadas, não havia brinquedos, não havia escolas. Apenas adultos apáticos, cumprindo rotinas, sem sequer trocar olhares.
Lucas, tentando quebrar o clima pesado, murmurou:
— Cara, isso aqui parece um velório gigante. Um futuro sem criança é um futuro sem alma.
Helena não respondeu. O aperto no peito aumentava. Pensar que sua irmã estava sozinha naquele mundo frio era insuportável.
De repente, um zumbido metálico cortou o ar. Do alto, três drones prateados surgiram, apontando feixes de luz vermelha diretamente para o grupo.
— Corram! — gritou Gabriel.
Eles se espalharam pela rua. Os drones disparavam rajadas de energia que explodiam no chão, abrindo crateras. Helena puxou Mateus para dentro de um beco estreito, enquanto Lucas e Gabriel viraram em outra direção.
Um dos drones seguiu Helena e Mateus. Helena, desesperada, encontrou uma porta metálica quebrada e a chutou com força, abrindo caminho para um depósito abandonado. O drone tentou entrar, mas ficou preso na estrutura. Mateus aproveitou para arremessar uma barra de ferro contra o núcleo brilhante da máquina. O impacto fez faíscas explodirem, e o drone caiu no chão, inerte.
Do outro lado, Gabriel e Lucas também tinham conseguido escapar, mas não sem ferimentos leves. Lucas tinha um corte no braço, e Gabriel mancava após cair durante a corrida.
Finalmente, reencontraram-se em um ponto mais escuro da rua.
— Eles não vão parar de nos caçar — disse Mateus, ofegante. — Precisamos de um plano, e rápido.
Foi então que ouviram um assobio. Uma figura encapuzada os chamava de dentro de uma passagem subterrânea. Desconfiados, se entreolharam, mas não tinham escolha. Entraram.
A figura retirou o capuz, revelando um jovem de aproximadamente vinte e poucos anos. Tinha olhos claros e uma cicatriz que atravessava a sobrancelha.
— Sou Kael — apresentou-se. — Elara me avisou que vocês poderiam aparecer.
Helena ficou atônita.
— Você conhecia a Elara?
— Ela é… era… uma das líderes da resistência. Se ela confiou em vocês, eu também confio.
O grupo suspirou aliviado.
Kael explicou que o Núcleo da Ordem, onde Clara estava presa, era o coração do regime. Localizado no centro da cidade, funcionava como prisão, laboratório e quartel-general. Crianças que surgiam de anomalias temporais eram levadas para lá e nunca mais vistas.
— O governo acredita que essas crianças representam uma ameaça ao equilíbrio — disse Kael. — Mas para nós, elas são a prova de que o futuro pode ser mudado.
Helena enxugou as lágrimas, determinada.
— Então precisamos tirá-la de lá.
Kael assentiu.
— Eu posso ajudar. Mas antes vocês precisam descansar e entender o que estão enfrentando.
Kael os levou até outro esconderijo, ainda mais profundo, protegido por camadas de concreto e portas de segurança. O lugar era iluminado por lâmpadas improvisadas e tinha dezenas de pessoas, algumas armadas, outras cuidando de equipamentos.
Helena observava tudo com atenção. A resistência era feita de pessoas comuns, mas com coragem suficiente para desafiar o regime.
Mateus, curioso, aproximou-se de Kael.
— Se vocês lutam há tanto tempo… por que ainda não conseguiram derrotá-los?
— Porque a Ordem não é apenas poder militar — respondeu Kael. — É vigilância total. Eles sabem tudo. Onde você está, o que você pensa, até o que sonha.
Lucas bufou.
— Esse futuro tá mais pra pesadelo.
Durante a conversa, Kael revelou algo que deixou o grupo em silêncio.
— A cabana em Serra do Luar… não é apenas um portal. Ela foi criada pela própria Ordem, décadas atrás. Eles experimentavam formas de manipular o tempo. Mas algo deu errado. O portal ficou instável e se tornou impossível de controlar.
Helena sentiu o chão desaparecer sob seus pés.
— Então… todo esse tempo… os desaparecimentos de 1992, o sumiço da minha irmã… tudo foi culpa deles?
Kael assentiu com tristeza.
— Sim. Mas a verdade nunca chegou ao seu tempo. Para vocês, parecia apenas lenda ou maldição.
Gabriel respirou fundo, tentando processar a informação.
— Então, para salvar Clara, não estamos apenas desafiando um governo. Estamos desafiando a origem de tudo.
Nos dias seguintes, o grupo recebeu treinamento básico com a resistência. Aprenderam a se mover sem chamar atenção, a usar dispositivos rudimentares contra drones e a decifrar os símbolos luminosos usados pela Ordem.
Helena se agarrava a cada detalhe, sabendo que sua irmã dependia daquilo.
Na véspera da missão, Kael reuniu todos em torno de uma mesa holográfica que projetava a planta do Núcleo da Ordem.
— Aqui é onde mantêm Clara — apontou ele para uma seção marcada em vermelho. — Mas o acesso é restrito e guardado 24 horas por drones e soldados. Vocês terão uma chance: durante a troca de turnos, quando a vigilância cai por alguns minutos.
Lucas tentou brincar, mas sua voz saiu trêmula.
— Fácil, né? É só invadir o quartel mais protegido do futuro e sair com uma criança no colo.
Apesar da ironia, todos sabiam: aquela seria a noite mais importante de suas vidas.
Antes de dormir, Helena se afastou do grupo e ficou olhando para o teto metálico do abrigo. As lágrimas escorriam silenciosas.
Ela falou em voz baixa, como se Clara pudesse ouvi-la em algum lugar daquele futuro sombrio:
— Eu juro, mana… eu vou te encontrar. Nem que eu tenha que enfrentar o mundo inteiro.
E no fundo, todos sentiam que aquela promessa seria o fio condutor da batalha que estava prestes a começar.
A cidade parecia ainda mais silenciosa naquela noite. As torres brilhavam em tons frios, e drones cruzavam os céus como predadores. O grupo, guiado por Kael, avançava pelas sombras, usando passagens subterrâneas e becos esquecidos.
Helena caminhava à frente, com os olhos fixos no horizonte. Cada passo parecia mais pesado que o anterior, mas o pensamento de reencontrar Clara a mantinha firme.
Mateus, observando a planta do local em um dispositivo holográfico improvisado, murmurou:
— O turno de vigilância troca em quinze minutos. É a nossa única chance.
Lucas respirou fundo e tentou sorrir.
— Beleza. Invadir o lugar mais protegido do mundo em quinze minutos. Moleza.
Apesar da piada, sua voz tremia.
Quando chegaram à área externa do Núcleo da Ordem, ficaram em silêncio absoluto. O prédio era imenso, com colunas metálicas que pulsavam em azul, como se respirassem. Guardas com uniformes escuros patrulhavam em duplas, enquanto drones pairavam sobre o pátio.
Kael se abaixou atrás de uma barreira de concreto.
— Lembrem-se: não podemos enfrentar todos de frente. Precisamos ser sombras.
Gabriel assentiu, ajustando um pequeno dispositivo no braço.
— Então vamos agir como sombras.
A primeira barreira era uma grade de energia que cercava todo o perímetro. Kael usou um aparelho da resistência para gerar um curto-circuito rápido, abrindo uma passagem de poucos segundos.
Um a um, os amigos atravessaram, com o coração disparado. Helena sentia o ar vibrar quando passou pelo campo de energia, como se estivesse atravessando uma tempestade invisível.
Dentro, precisavam chegar até o setor vermelho, onde Clara estava mantida.
Depois de corredores intermináveis, portas codificadas e desvios rápidos para escapar dos drones, finalmente chegaram a uma sala de contenção. No centro, dentro de uma cápsula de vidro, estava Clara.
Ela parecia menor do que Helena lembrava, ainda de uniforme escolar, os olhos cheios de medo e lágrimas.
— Clara! — gritou Helena, correndo até a cápsula.
Clara arregalou os olhos, sem acreditar.
— Mana? É você mesmo?
Helena pressionou as mãos contra o vidro.
— Sou eu, meu amor. Vim te buscar. Você vai voltar comigo.
Kael rapidamente acessou o painel ao lado da cápsula, tentando liberar a trava. Mas antes que pudesse concluir, um alarme estrondoso tomou conta do ambiente.
Portas se abriram em todas as direções. Soldados armados cercaram a sala, e um holograma gigantesco surgiu no centro. Era uma mulher de olhar frio e expressão impenetrável, vestindo um manto negro.
Sua voz ecoou clara e firme:
— Eu sou Alta Comandante Seraphine, líder da Ordem. Vocês cometeram um erro fatal ao virem até aqui.
Helena sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
— Devolvam minha irmã! — gritou, sem medo.
Seraphine a encarou com desdém.
— A criança não pertence a este tempo. Ela é um erro, uma anomalia criada pela falha da cabana. Mantê-la viva ameaça o equilíbrio de toda a linha temporal.
Mateus deu um passo à frente.
— Isso não é equilíbrio. É tirania. Vocês apagaram gerações inteiras!
Seraphine ergueu a mão, e os drones apontaram armas de energia para o grupo.
— Sacrifícios são necessários. Vocês não compreendem, mas o futuro depende disso.
No momento em que os drones se preparavam para disparar, Kael ativou uma granada de pulso eletromagnético, lançando-a ao centro da sala. Uma explosão de luz azul apagou todas as máquinas por alguns segundos.
— Agora! — gritou ele.
O grupo correu até Clara, Kael finalmente liberando a trava da cápsula. Helena abraçou a irmã com força, chorando de alívio.
Mas quando se viraram para fugir, Kael ficou para trás, segurando a porta.
— Vão! Eu vou atrasá-los!
— Não! — gritou Gabriel. — Você vem com a gente!
— É tarde demais — respondeu Kael, já enfrentando os soldados que começavam a se recompor. — Salvem a garota. Salvem o futuro!
O coração de Helena se partiu, mas não havia escolha. Com lágrimas nos olhos, ela puxou Clara e correu pelo corredor, enquanto os sons da batalha ecoavam atrás deles.
Correndo pelos corredores, agora com Clara ao lado, o grupo tentava escapar. Mas os alarmes soavam por toda a instalação, e cada saída parecia bloqueada.
Lucas, ferido e exausto, murmurou:
— Isso não vai dar certo… eles são muitos.
Foi então que Clara, ainda ofegante, falou algo que fez todos gelarem.
— Eu… eu sei o caminho.
Helena a olhou, surpresa.
— O quê? Como você pode saber?
— Eles me trouxeram aqui várias vezes. Fizeram testes. Eu sei onde fica a saída de emergência.
Sem hesitar, Helena confiou na irmã. Seguiram-na por corredores estreitos, passando por salas repletas de máquinas que não entendiam.
Antes de alcançarem a saída, passaram por um grande salão onde hologramas exibiam linhas do tempo. Algumas mostravam eventos conhecidos da história; outras, possibilidades distorcidas, onde cidades inteiras desapareciam ou nunca tinham existido.
Mateus parou por um instante, horrorizado.
— Eles estão controlando as linhas do tempo… decidindo o que deve existir e o que deve ser apagado.
Helena sentiu um frio na espinha.
— Isso significa que… nosso próprio passado pode ser mentira?
Gabriel puxou todos para seguir adiante.
— A gente não pode parar agora. Se ficar aqui, nunca vamos sair.
Finalmente, chegaram a uma escotilha de emergência. Clara mostrou como destravá-la, e juntos empurraram a pesada porta metálica. O ar frio da noite invadiu seus pulmões, trazendo uma sensação de liberdade.
Mas ainda não estavam seguros. Drones e soldados os perseguiam pelo pátio, disparando sem piedade. Helena segurava Clara pela mão, correndo com todas as forças.
No horizonte, Kael havia mencionado uma rota de fuga pela rede de esgoto subterrâneo. Era a única esperança.
Com explosões iluminando o céu atrás deles, os amigos desapareceram nas sombras, levando consigo não apenas Clara, mas também um segredo que poderia mudar tudo: a Ordem controlava o próprio tempo.
E agora, sabiam demais para serem deixados vivos.
A noite estava escura, mas as luzes flutuantes da cidade davam uma sensação surreal. Helena segurava Clara firme, enquanto Mateus e Lucas corriam logo atrás, desviando das rajadas de energia disparadas pelos drones da Ordem.
— Eles estão nos seguindo! — gritou Lucas, ofegante.
— Rápido, o túnel de evacuação! — respondeu Helena, lembrando das instruções de Kael.
O túnel estava escondido sob uma passagem lateral. Entraram rapidamente, sentindo o ar fresco desaparecer atrás da pesada porta metálica. O som metálico dos drones ainda ecoava, mas agora distantes.
Enquanto desciam pelo túnel, Helena pensava em Kael. O sacrifício do aliado permitiu que chegassem até aqui, mas a imagem dele enfrentando os soldados da Ordem ficaria gravada para sempre em suas memórias.
— Ele não vai voltar… — sussurrou Helena, a voz trêmula.
— Então é nossa vez de lutar pelo que ele acreditava — respondeu Mateus, tentando confortá-la.
Após horas de caminhada pelo labirinto subterrâneo, o grupo finalmente chegou ao refúgio da resistência, um espaço escondido no subsolo da cidade, protegido por camadas de concreto, portas de segurança e dispositivos de camuflagem.
O lugar estava iluminado por lâmpadas artificiais e telas holográficas que exibiam informações vitais sobre a Ordem. Pessoas da resistência se moveram rapidamente para ajudá-los, cuidando de ferimentos, oferecendo água e explicando rotinas de segurança.
— Vocês conseguiram — disse Elara, aparecendo com um sorriso cansado. — Mas ainda não estão seguros.
Clara, ainda confusa e assustada, olhou para Helena:
— Mana… eu achei que nunca mais ia te ver.
Helena abraçou a irmã com força.
— Eu prometi, lembra? Eu vim te buscar. E nunca vou desistir de você.
Enquanto se recuperavam, Elara explicou detalhes que deixaram o grupo em choque:
— A Ordem não apenas controla as cidades do futuro — começou ela —, eles monitoram e manipulam linhas temporais inteiras. Qualquer anomalia, como Clara, é considerada uma ameaça ao equilíbrio que eles impuseram.
Mateus engoliu em seco.
— Então todo o desaparecimento de crianças ao longo do tempo… foi obra deles?
— Sim — respondeu Elara. — E por isso, vocês foram trazidos para 2088. Clara não foi apenas levada; ela foi escolhida, e vocês foram atraídos para resgatá-la.
Gabriel, ainda tentando processar, balançou a cabeça.
— Isso é maior do que qualquer coisa que imaginamos. Não é só salvar uma irmã… é lutar contra o controle do futuro.
Com Clara agora segura, o grupo começou a traçar os próximos passos. A resistência forneceu mapas, códigos de acesso, armas improvisadas e informações sobre pontos estratégicos do Núcleo da Ordem.
— Precisamos pensar — disse Helena. — O que vamos fazer com a Ordem? Podemos simplesmente fugir com Clara, mas se eles ainda controlam o tempo, eles podem nos perseguir em qualquer momento da linha temporal.
Elara assentiu.
— É verdade. E é por isso que precisamos preparar um plano mais complexo. Precisamos entender a extensão do controle deles e encontrar uma maneira de quebrar o sistema sem destruir a linha temporal por completo.
Durante a noite, enquanto descansavam no abrigo, os amigos perceberam o quanto haviam mudado. A experiência em 2088 não apenas testou suas habilidades físicas e mentais, mas também fortaleceu os laços entre eles. Helena e Clara estavam finalmente juntas, mas cada um sentia o peso do que haviam enfrentado e o perigo que ainda se aproximava.
Lucas comentou com um sorriso tímido:
— Nunca imaginei que minha vida incluiria correr pelo futuro para salvar uma criança do governo do tempo.
Mateus riu baixinho, mas o sorriso logo desapareceu.
— E ainda temos que enfrentar a Ordem de frente…
Helena, segurando Clara, olhou para os amigos:
— Vamos conseguir. Juntos. Não importa o que esteja à frente, não vamos desistir.
O grupo sabia que a Ordem não iria desistir. Cada movimento no futuro podia ser rastreado, cada ação poderia ser antecipada. Mas agora, com Clara segura e a resistência apoiando, eles tinham a chance de lutar de forma estratégica.
E assim, a história se prepara para a Parte 3, onde a batalha contra a Ordem se intensifica, a verdade sobre o controle do tempo é revelada e o dilema entre voltar para 2025 ou permanecer em 2088 toma forma.