Fronteira 51

O Segredo da Villa Neblina

A pequena e isolada cidade de Valenwood era um lugar onde o tempo parecia se arrastar preguiçosamente. Casas de telhados pontiagudos e ruas de paralelepípedos serpenteavam entre colinas verdejantes, envoltas quase sempre por uma névoa densa e persistente – a razão do apelido melancólico da Villa Neblina. Era ali, no topo da colina mais alta, que se erguia a imponente Mansão Blackwood, há anos desabitada e envolta em sussurros sombrios.

Sarah, uma jovem jornalista investigativa com um faro apurado para o inexplicável, havia se mudado para Valenwood movida por uma única obsessão: desvendar o mistério que pairava sobre a Mansão Blackwood. Lendas locais falavam de um terrível acontecimento décadas atrás, um desaparecimento súbito e inexplicado da família Blackwood inteira, proprietária da vasta propriedade. Nenhuma pista, nenhum corpo, apenas a mansão fechada e o silêncio sepulcral.

A princípio, a tarefa de Sarah se mostrou árdua. Os moradores mais antigos de Valenwood eram relutantes em falar, seus olhos carregando um medo ancestral ao mencionar o nome Blackwood. Histórias fragmentadas de sussurros noturnos, luzes misteriosas nas janelas abandonadas e um sentimento de mal-estar constante permeavam as conversas sussurradas nos cantos escuros dos poucos estabelecimentos da cidade.

Sarah começou suas investigações pelos arquivos empoeirados do pequeno jornal local e da biblioteca municipal. Encontrou recortes de notícias antigas que narravam o súbito desaparecimento da proeminente família Blackwood – o patriarca, um industrial bem-sucedido; sua esposa, uma renomada pianista; e seus dois filhos pequenos. A polícia da época havia conduzido uma investigação superficial, concluindo sem sucesso que a família havia partido repentinamente, talvez por problemas financeiros ou algum segredo obscuro. Mas Sarah sentia que havia muito mais por trás daquela conclusão apressada.

Decidida a ir além dos registros oficiais, Sarah começou a explorar os arredores da Mansão Blackwood. A propriedade estava cercada por uma cerca de ferro enferrujada e adornada com portões ornamentados, agora trancados e cobertos de trepadeiras. Através das grades, a mansão se mostrava imponente e decadente, suas janelas escuras como olhos vazios fitando o vale.

Em uma de suas incursões noturnas, aproveitando a densa neblina que engolia a cidade, Sarah conseguiu encontrar uma brecha na cerca. Caminhou pela alameda outrora majestosa, agora tomada por ervas daninhas e folhas secas, até alcançar a porta principal da mansão. Estava trancada, mas uma janela lateral no térreo parecia entreaberta.

Com o coração pulsando forte, Sarah forçou a janela e rastejou para dentro. O ar no interior era pesado, carregado de poeira e um cheiro indistinto de mofo e algo mais... algo sutilmente estranho, quase metálico. A luz fraca da lua que trespassava as cortinas empoeiradas revelava móveis cobertos por lençóis brancos, como fantasmas à espera.

Enquanto explorava os cômodos silenciosos, Sarah sentia uma crescente sensação de que não estava sozinha. Um arrepio percorria sua espinha, e sussurros tênues pareciam ecoar nas paredes. No antigo escritório do patriarca, encontrou documentos espalhados sobre a escrivaninha, cartas inacabadas e anotações rabiscadas que falavam de negócios arriscados e dívidas crescentes. Seria essa a chave do mistério?

Adicione o texto do seu título aquiNa sala de música, um piano de cauda permanecia coberto, mas Sarah podia imaginar os dedos delicados da matriarca deslizando pelas teclas. Ao remover o lençol, notou uma partitura parcialmente rasgada no atril. As notas finais estavam borradas, como se tivessem sido interrompidas abruptamente.

A investigação de Sarah a levou ao andar superior, aos quartos da família. No quarto das crianças, brinquedos empoeirados jaziam esquecidos, como se seus donos tivessem saído para brincar e nunca mais voltado. Uma boneca de porcelana com um olhar fixo parecia observá-la de um canto escuro.

Finalmente, Sarah encontrou o que parecia ser o epicentro do mistério: o porão. Uma escada de madeira rangente a levou para baixo, a um espaço úmido e frio, com um cheiro ainda mais forte daquela estranha nota metálica. Ao acender sua lanterna, Sarah revelou um cenário perturbador. Ferramentas enferrujadas, recipientes quebrados e manchas escuras no chão de pedra sugeriam uma atividade sinistra.

Em um canto, atrás de uma pilha de caixas empoeiradas, Sarah descobriu uma porta de ferro maciça, trancada com um cadeado antigo e enferrujado. A curiosidade e a adrenalina a impulsionaram. Com as ferramentas que trouxera, Sarah trabalhou no cadeado, seus dedos trêmulos de expectativa.

Após alguns minutos tensos, o cadeado cedeu com um clique seco. Sarah empurrou a porta pesada, revelando um pequeno aposento subterrâneo. No centro, sobre uma mesa de pedra, jaziam quatro esqueletos. Os restos mortais da família Blackwood.

O horror tomou conta de Sarah, mas a necessidade de entender falou mais alto. Uma análise mais detalhada dos esqueletos revelou marcas de ferimentos, não acidentais. A causa da morte não fora um desaparecimento voluntário, mas sim um ato de violência brutal.

Ao lado dos esqueletos, Sarah encontrou um diário encadernado em couro. As páginas amareladas continham a terrível verdade: o patriarca da família Blackwood estava envolvido em negócios ilegais e havia contraído uma dívida enorme com figuras perigosas. A noite do desaparecimento, seus cobradores haviam invadido a mansão, exigindo o pagamento. Em um confronto sangrento, toda a família Blackwood havia sido assassinada. Os criminosos, para ocultar o crime, haviam colocado os corpos no porão secreto e feito parecer que a família havia simplesmente partido.

Com a verdade finalmente revelada, Sarah deixou a Mansão Blackwood sob a luz pálida do amanhecer, a névoa da Villa Neblina parecendo menos densa, como se o peso do segredo tivesse se dissipado. Sua reportagem sobre o macabro destino da família Blackwood chocou a cidade e trouxe à tona a verdade sombria que Valenwood tentara enterrar por tanto tempo. A justiça, tardia mas inevitável, finalmente alcançaria os responsáveis indiretos por aquela tragédia. E Sarah, a jornalista corajosa, havia provado que mesmo os segredos mais profundos podem ser desenterrados pela persistência e pela busca incessante pela verdade.

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