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O Enigma do Casarão da Rua das Flores

A Rua das Flores, em Vila Serena, outrora um cartão postal da cidade com seus jardins exuberantes e fachadas coloridas, carregava agora uma aura de melancolia. No número 78, um antigo casarão de arquitetura imponente, mas com a pintura descascada e janelas empoeiradas, permanecia envolto em um silêncio sepulcral. Era conhecido como o Casarão Velho, e sua história era tecida por fios de mistério e tragédia.

Isabela, uma jovem historiadora recém-chegada à cidade, sentia-se inexplicavelmente atraída pelo casarão. As histórias que ouvia eram fragmentadas e contraditórias: um amor proibido que terminara em desespero, um tesouro escondido jamais encontrado, sussurros de uma alma penada que vagava pelos cômodos vazios. A curiosidade de Isabela, aliada a sua paixão por desvendar o passado, a impulsionou a mergulhar no enigma do Casarão Velho.

Seu primeiro passo foi buscar informações nos arquivos do município e nos relatos dos moradores mais antigos da rua. Descobriu que o casarão pertencia à família Alencar, uma das mais tradicionais da região, mas que o havia sido abandonado abruptamente há mais de cinquenta anos. A última moradora conhecida fora uma jovem chamada Cecília Alencar, uma pianista talentosa que, segundo os boatos, desaparecera sem deixar vestígios. Alguns diziam que fugira com um amor proibido, outros murmuravam sobre um trágico acidente dentro da propriedade.

Intrigada pela falta de clareza, Isabela começou a visitar o casarão regularmente, observando-o de diferentes ângulos, tentando capturar alguma pista em sua fachada decadente. Um dia, notou uma pequena porta lateral, quase escondida pela vegetação densa, que parecia não estar totalmente trancada. Impulsionada por um misto de excitação e apreensão, Isabela forçou a fechadura enferrujada, que cedeu com um rangido agourento.

Enquanto explorava os cômodos em silêncio, Isabela sentia uma presença sutil, como se estivesse sendo observada por olhos invisíveis. No antigo escritório, encontrou cartas antigas, amareladas pelo tempo, trocadas entre Cecília e um remetente desconhecido. As palavras eram apaixonadas e desesperadas, sugerindo um romance intenso e cheio de obstáculos. Em uma das cartas, Cecília mencionava um encontro secreto no porão do casarão.

O interior do casarão era um labirinto de poeira, teias de aranha e sombras dançantes. Móveis antigos, cobertos por lençóis brancos, evocavam um tempo de esplendor há muito perdido. Um piano de cauda imponente dominava a sala principal, suas teclas amareladas e silenciosas. Isabela não pôde deixar de imaginar os acordes melodiosos que outrora ecoavam por aquele espaço.

Com o coração acelerado, Isabela localizou a escada que levava ao subsolo. O ar ali era mais frio e úmido, carregado de um cheiro terroso. A luz fraca de sua lanterna revelou um espaço empoeirado, repleto de objetos esquecidos. Em um canto, encontrou um baú de madeira trancado.

A persistência de Isabela a levou a encontrar uma chave antiga escondida dentro de um livro de partituras na sala de música. Com as mãos trêmulas, ela inseriu a chave no cadeado do baú. Ao abri-lo, encontrou um conjunto de joias antigas, um diário encadernado em couro e uma carta lacrada.

O diário pertencia a Cecília. Suas páginas revelavam a história de um amor proibido com um homem de outra cidade, um amor que sua família jamais aprovaria. A carta lacrada era endereçada a esse homem, marcada para ser entregue após sua partida.

As últimas anotações do diário eram datadas da noite em que Cecília desapareceu. Ela descrevia um plano de fuga, um encontro secreto no porão antes de partir para nunca mais voltar. Mas a carta jamais fora enviada.

Isabela então percebeu a verdade sombria: Cecília não havia fugido. Algo acontecera naquela noite fatídica no porão. Ao examinar o chão empoeirado, Isabela notou uma área com a terra remexida, escondida atrás de algumas caixas antigas.

Com a ajuda de alguns moradores curiosos que se aproximaram, Isabela conseguiu cavar naquele local. A poucos centímetros da superfície, encontraram os restos mortais de uma jovem mulher, ainda vestindo um vestido que Isabela reconheceu de uma antiga fotografia de Cecília.

O mistério do Casarão da Rua das Flores finalmente fora desvendado. Cecília Alencar, vítima de um destino cruel, provavelmente assassinada por alguém que se opunha ao seu amor, teve sua história revelada pelas mãos curiosas de uma jovem historiadora. O silêncio do casarão parecia agora carregar não mais o peso do mistério, mas sim a triste melodia de um amor interrompido e uma justiça tardia para a pianista esquecida da Rua das Flores. A alma de Cecília, finalmente liberta do enigma, poderia enfim encontrar a paz.

CONTINUA.....

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